domingo, 30 de outubro de 2016

Flamenco é força!

    No flamenco não existe meio termo. É tudo ou nada. Não consegue tomar uma decisão? Comece a aprender flamenco e com o tempo vai ver... tudo fica mais claro. "Esta dança é a coragem. 
Bailaoras: Maria Cristina Vidigal; Veruska Mendes e Giovana Moraes
Espetáculo: Pá los sentidos - 2015
   Outras danças são alegres. A alegria desta é séria. É o triunfo mortal de viver o que importa." O trecho do texto Espanha, de Clarice Lispector, traduz a urgência do flamenco e me lembra do que pensei, exausta e feliz, ao fim de uma aula com la gran maestra Juana Amaya: flamenco não é para os fracos. A bailaora espanhola, uma das maiores de sua geração, esteve no Brasil no final de março, por curta temporada, para algumas classes, na Cuadra Flamenca, escola que escolhi por ser um dos centros de estudos de flamenco mais genuínos de São Paulo.

Espetáculo Pá los Sentidos - 2015
Bailaoras do Grupo Veruska Mendes

   Sob a batuta da maestra Vera Alejandra Biglione, precursora do flamenco contemporâneo no Brasil e uma das grandes culpadas por eu cair de amores por essa dança, a Cuadra é um pedacinho do Sul da Espanha no bairro de Pinheiros. Um ponto de encontro de guitarristas, cantaores, bailaores dos bons, além de promover cursos internacionais como o da Juana Amaya. Nem nos sonhos mais loucos imaginei que, com pouco mais de um ano de aulas, conseguiria sapatear no ritmo da bailaora espanhola, o que me fez ver o quanto a base que ganhei na Cuadra faz a diferença. "Mas rápido! Flamenco es como la vida. No espera!", diz Juana, entre um passo e outro. Mais tarde, na sala espelhada em que nos encontramos para a entrevista, menciono meu pensamento de que os fracos não têm vez nessa dança. "O flamenco é para todos", golpeia Juana. "Para todos os que o recebem de coração aberto."
Bailaora Giovana Moraes por Sevillanas

     Juana Amaya vem uma dinastia cigana, do povoado de Morón de la Frontera, perto de Sevilha, no coração da Andaluzia --o berço do flamenco. Leva nas veias o sangue das famílias Vargas e Amaya. Sua avó Francisca (como a minha!), tinha o sobrenome "Amaya Amaya". O célebre guitarrista flamenco Diego Amaya Flores, mais conhecido como Diego Del Gastor, era o tio que embalava os encontros da família festeira e dançante. Juana começou a dançar tão chiquita, que as primeiras lembranças que tem de si mesma, bailando, são de brincadeira. "Havia um pátio cheio de flores, no bairro de Santa Cruz. Eu e meu primo Ramón (Barrull), um pouco mais velho, bailávamos ali. Me recordo de bailar brincando e de estar todo dia bailando", diz. Aos 9 anos, já era a estrela mascote das peñas de Morón e de Alcalá, com seu baile selvagem e doce, como o flamenco que ela traduz e ensina. "Hay que tener ganas, mas sem perder a sensibilidade. O flamenco, como a música, vive do sentimento humano: alegria, tristeza, morte, amor, desamor. Acima de tudo, é uma forma de vida. Vives com ele e morres com ele. 
Bailaora Maria Cristina Vidigal 

      Com a guitarra mágica de seu tio Diego, Morón de la Frontera passou a atrair gente de todas as partes do mundo e de todos os cantos da Espanha. Gente como o bailador e coreógrafo Mario Maya que, encantado com a pequena Juana, fez dela, aos 13 anos, a primeira bailarina de sua companhia. Foi quando ela se deu conta de que bailava profissionalmente. "Naquela época não havia tantas escolas, tanta comunicação. Os artistas se formavam trabalhando. Hoje, é uma sorte ter tanta informação e formação", diz. Pelo mundo afora, Juana Amaya, assim como seu primo Ramón Barrull, se tornaram ícones do flamenco. Barrull, contudo, morreu cedo e ela seguiu bailando com todos os grandes: Joaquín Cortés, Antonio Canales, Manolete, Farruquito... Mais fácil, talvez, dizer com quem Juana Amaya não bailou.
Bailaora e coreógrafa Veruska Mendes 

A maestra veio p​ela primeira vez ​ao Brasil, graças a iniciativa das flamencas Vera Alejandra (Cuadra Flamenca, na foto abaixo) e Ana Marzagã​o (na foto acima) --duas apaixonadas pe​lo trabalho de ​​​Juana Amaya. Vera Alejandra​, minha atual maestra,​ iniciou​ com a​ bailarina espanhola Ana Esmeralda, rodou o mundo com sua arte​, ​com passagens por Espanha e Argentina​, ​e dirige a sua querida Cuadra Flamenca, com ​fuerza no tacón​​!, há dez anos."O Flamenco é uma força avassaladora, e quando você é ​'​fisgado​'​ por essa força​,​ não há como não entregar-se. ​Para mim, essa dança deve vir sempre acompanhada de verdade, a sua verdade, a sua história pessoal, pois ​afinal ​nasceu contando a história desse maravilhoso povo andaluz​ e​ dos gitanos​,​ especialmente​. É o que procuro fazer na Cuadra Flamenca, um trabalho sincero e com paixão​, ​tentar tirar o melhor de cada um e traduzi-lo para a linguagem flamenca​.​ ​T​er feito essa parceria para trazer a Juana Amaya foi como reafirmar essa busca do flamenco verdadeiro e puro, pois​ é o flamenco que ela carrega em sua arte​", diz Vera Alejandra.
Todas as alunas do Grupo bailando por sevillanas e celebrando os 10 anos do Grupo.
"O flamenco é para todos"

Para quem está nos primeiros passos da dança, como eu, la gran maestra deixa o recado: "Insista, não desista. O flamenco é um aprendizado eterno. Quando pensas que conquistou algo, vem outra fase, outro desafio. Ensaiando, se dedicando e tendo 'ganas', tudo sai." Até mesmo a lembrança de uma letra de cante, que Juana hesita em puxar da memória. "O cante não se trata da letra, mas da maneira de cantar. São letras de pena, de lágrimas, por que nasceram do sofrimento de gente pobre, marginalizada, pessoas que não têm mais nada, mas saem bailando e cantando", segue ela, ensinando. Por fim, se lembra de quatro frases de uma soleá, "a mãe de todos os palos (nome que recebe cada cante)", que diz mais do que mil palavras sobre a força "avassaladora" do flamenco:
"Fui piedra y perdí mi centro 

y me arrojaron al mar 
ya fuerza de mucho tiempo 
mi centro volvió a encontrar"

Créditos: Rosane Queiroz - Jornalista

domingo, 23 de outubro de 2016

As diferentes ênfases do Flamenco: tradicional,moderno e contemporâneo

O flamenco espanhol se divide em 3 categorias: Flamenco Jondo ou Antigo, que é o mais tradicional; Flamenco Clássico, o mais moderno e que utiliza novas técnicas; e o Flamenco Contemporâneo, uma mistura dos outros dois já citados , adicionando a eles o jazz e o fusion. 

Neste vídeo, o guitarrista Flamenco Flávio Rodrigues explica as diferenças.


domingo, 9 de outubro de 2016

Flamenco: a importância do sapateado!


O Flamenco é uma combinação de música, canção e dança. Na sua dança, há tapas no corpo, mas a característica mais forte é a presença das palmas e frases rítmicas do sapateado. Este último, confere uma presença marcante para os palos Flamencos, no qual os bailaores e bailaoras utilizam os pés como percussão. Assim o sapato é especial tendo na sola e no salto pequenos pregos que acentuam o som.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Curiosidades sobre o Flamenco!

    O Flamenco é muito mais que um tipo dança, sendo  considerada como uma real expressão artística. O seu significado reflete a cultura da Andaluzia (região sul da Espanha). Originada primeiramente nas ginaterias (bairros pobres ciganos), tornou-se uma arte popular tecnicamente elaborada e com grande expressão emocional, sendo passada de geração para geração pelas famílias ciganas, e que ao longo dos anos se difundiu a nível mundial transformando-se, provavelmente, na mais conhecida expressão da cultura espanhola.
     O cante é a forma mais antiga do flamenco, com o passar do tempo, novos elementos e inovações (técnicas modernas) passaram a ser incorporado, extrapolando-se os limites do folclore, difundindo-se cada vez mais para um número crescente de adeptos.

  A dança flamenca une muitas influências em sua técnica: dança moderna, contemporânea e balé clássico, tornando o Flamenco ainda mais rico, sendo considerado a arte mais completa, tanto corporal como musicalmente. Resultado da mescla de muitas culturas, porém, mais importante que sua história e suas técnicas, deve-se ressaltar que a Arte Flamenca é antes de tudo uma atitude, onde os sentimentos e emoções do interior da alma, são expressados e compartilhados através do prazer da música, do cante, do baile, do toque da guitarra espanhola e de seu elemento fundamental, o duende (alma ou sentimento flamenco).
    

    As antigas reuniões do flamenco, onde os ciganos juntavam-se para cantar e dançar com a finalidade de liberar suas tensões e frustrações da vida, são até hoje conhecidas como juergas, e nelas, o importante é ser espontâneo na expressão artística. A juerga geralmente inicia-se com um encontro, onde as pessoas conversam, comem e tomam vinho, e logo após dançam o Flamenco por toda a noite!



O nosso grupo aqui em Uberlândia também se reúne para cantar, tocar e dançar, especialmente após os espetáculos!